domingo, 26 de julho de 2015

Vovó sabia cozinhar e pagava pouco



Prever algumas tendências tem uma correlação muito grande com a observação do comportamento humano. A observação é umas das formas mais simples de entender as mudanças de comportamento e, consequentemente, se antecipar às tendências.

Na época dos seus avós, era comum uma mulher mãe de família saber cozinhar? E hoje em dia, você acha que o percentual de mulheres que sabem cozinhar é maior ou menor?

Qual a quantidade de sal que devo colocar nesse frango antes de assá-lo? Tempero com o que além do sal? Levo ao forno coberto com papel alumínio ou não? Removo o papel alumínio quanto tempo antes de desligar o forno?

Coisas simples, presentes do dia a dia de qualquer família, e que têm total correlação com as estratégias de produto e o marketing utilizado para vendê-los com sucesso no supermercado.

Como assim? O que o sal ou papel alumínio têm a ver com estratégias de produtos alimentares?

Tudo! Você já percebeu que a oferta de produtos previamente temperados aumentou? Alguns já vêm até com o papel alumínio moderno, que é um plástico que pode ir ao forno. A receita já está pronta, porcionada e, obviamente, muito mais cara.

O frango que nossas avós compravam no açougue ou aviário (e o escolhiam ainda vivo) não vinha com receita nem temperado e era um dos vários ingredientes da refeição familiar. Hoje, a praticidade associada à mudança de comportamento, fazem com que muitos consumidores olhem o frango congelado sem tempero no mercado e decidam pagar mais que o dobro do preço no mesmo frango com algumas pitadas de sal, condimentos e um saco plástico que pode ir ao forno.

Não importa se você vai chamar isso de valor agregado ou oferta de valor, o fato é que as margens é o lucro são bem maiores quando se percebe a tendência decorrente das mudanças no comportamento.

E as embalagens? Lindas, é claro. Mas quanto à quantidade por embalagem? Aumentando ou diminuindo?

Na época da inflação galopante, antes do plano real, o salário recebido no dia 5 do mês precisava rapidamente ser convertido em produtos e serviços antes que o seu poder de compra chegasse à metade no final do mês. A cultura da "compra de mes" era muito forte nos tempos de inflação e isso explicava a preferência por embalagens em quantidades maiores e ofertas de "atacarejo" (atacado+varejo) com preços mais baixos.

Nos anos seguintes ao controle da inflação, uma gradativa perda dessa cultura teve início, até chegarmos à ridícula embalagem de arroz contendo 500g e que dentro ainda existem saquinhos com poucos gramas já porcionados e prontos para serem jogados à água fervente com saco e tudo.

Veja que está tudo conectado. Do momento econômico do país até o conhecimento sobre como cozinhar um arroz que não seja de saquinho. Novamente, claro que o arroz de caixinha tem seu preço por kg muito maior que o arroz à granel que vovó comprava.

Seus negócio pode não ser uma granja ou uma fazenda de arroz, mas certamente você também não poderá desconsiderar esses fatores comportamentais e econômicos no momento de definir o tamanho da sua "embalagem" e se a oferta do seu produto será "crua" ou "receita quase pronta".

E aí, já refletiu sobre isso? E se o que você vende é um serviço em vez de um produto? Será que não pode ter uma oferta de serviço mais completa e "pronta para consumo"?